Na manhã seguinte, Afrodite mandou chamar Psiquê e disse-lhe:
- Olha para aquele bosque que se estende à margem do rio, ali encontrarás carneiros cobertos de lã brilhante como ouro, pastando sem um pastor. Vai buscar-me uma amostra daquela preciosa lã colhida de cada um dos velocinos.
Docilmente, Psiquê dirigiu-se á margem e disposta a cruzar o rio para fazer o que estivesse ao seu alcance e assim cumprir a ordem. Porém o rio advertiu a moça:
- Oh! donzela, não desafies a corrente perigosa, nem te aventures entre os formidáveis carneiros da outra margem, pois, enquanto eles estiverem sob a influência do sol nascente, são dominados por uma raiva cruel de destruir os mortais, com seus chifres aguçados e seus dentes afiados. Quando, porém, o sol do meio-dia tiver levado o rebanho para a sombra e o espírito sereno do rio o tiver acalentado para descansar, podes atravessar entre ele sem perigo e encontrarás a lã de ouro nas moitas de arbustos e nos troncos das árvores.
Assim o bondoso rio deus ensinou a Psiquê o que deveria fazer para executar sua tarefa e, seguindo suas instruções, ela em breve voltou para junto de Afrodite, com os braços cheios de lã de ouro, porém, não foi recebida com benevolência por sua implacável senhora, que disse:
- Sei muito bem que não foi por teu próprio esforço que foste bem-sucedida nessa tarefa e ainda não estou convencida de que tenha capacidade para executar sozinha uma tarefa. Toma esta caixa, vai ás sombras infernais e entrega-a a Perséfone, dizendo: "Minha senhora Afrodite quer que lhe mandes um pouco da tua beleza, pois, tratando de seu filho enfermo, ela perdeu alguma da sua própria."Não demore a executar a tarefa, pois preciso disso para aparecer na reunião dos deuses e deusas esta noite.
Psiquê ficou certa de que sua perda era, agora, inevitável, obrigada a ir com seus próprios pés diretamente ao Érebo. Assim, para não adiar o inevitável, dirigiu-se ao alto de uma elevada torre, para de lá se tentar e tornar mais curta a descida para as sombras. Uma voz vinda da torre, disse-lhe, porém:
- Por que, desventurada jovem, pretende pôr um fim aos teus dias de modo tão horrível? E que covardia faz desanimar diante deste último perigo?
Em seguida, uma voz lhe disse como poderia alcançar o reino de Hades e como evitar os perigos do caminho, passar por Cérbero, o cão de três cabeças, e convencer Caronte, o barqueiro, a transportá-la para a travessia do negro rio e trazê-la de volta.
- Quando Perséfone te der a caixa com sua beleza - acrescentou a voz – você tem que ter cuidado, de modo algum você pode abrir caixa e não permita que tua curiosidade olhe o tesouro de beleza das deusas.
Animada por estas palavras, Psiquê seguiu todas as recomendações e chegou sã e salva ao reino de Hades. Foi admitida no palácio de Perséfone e sem aceitar o delicioso banquete que lhe foi oferecido, contendando-se com pão seco para alimentar-se, transmitiu o recado de Afrodite. A caixa lhe foi devolvida sem demora, fechada e repleta de coisas preciosas. Psiquê voltou, então, pelo mesmo caminho e bem feliz se sentiu quando viu de novo a luz do dia.
Depois, porém, de vencer tantos perigos, foi dominada por intenso desejo de examinar o conteúdo da caixa.
- Eu, transportando a beleza divina, não aproveitarei uma parte mínima dela para pôr em minha face e parecer mais bela aos olhos de meu amado marido?
Assim dizendo, abriu cuidadosamente a caixa, mas nada ali encontrou de beleza e sim o infernal e verdadeiro sono estígio, que, libertando-se da prisão, tomou posse dela e a fez cair no meio do caminho, como um cadáver sem senso de movimento.
Cupido, porém, já restabelecido de seu ferimento, e já não suportando a ausência de sua amada Psiquê, passando pela greta da janela de seu quarto, voou até o lugar onde estava a jovem e retirando o sono de seu corpo, fechou-o de novo na caixa e acordou Psiquê, com o ligeiro contacto de uma de suas flechas.
- Mais uma vez - exclamou - quase morreste, devido à mesma curiosidade. Mas agora executa a tarefa que te foi imposta por minha mãe, e cuidarei do resto.
Então, Cupido, rápido como o relâmpago, penetrando através das alturas do céu, apresentou-se diante de Zeus, com sua súplica o ouviu-o com benevolência.
Cupido suplicou a Zeus que lhe devolvesse a esposa amada então o senhor dos deuses respondeu:
- O deus do amor não pode se unir a uma mortal".
Cupido fez o pedido a Zeus:
Será que Zeus que tinha tanto poder não podia tornar Psiquê imortal? O senhor dos deuses sorriu lisonjeado. Além do mais como poderia de deixar de atender a um pedido de Cupido, que lhe trazia lembranças tão boas? O deus do amor o tinha ajudado muitas vezes, e talvez algum dia Zeus precisaria da ajuda de Cupido de novo. Seria mais prudente atender o seu pedido. Zeus mandou Hermes ir buscar Psique e lhe trouxesse para o reino celeste.
- Bebe isto, Psiquê, e seja imortal.
Assim, Psiquê ficou, finalmente, unida a Cupido e, mais tarde, tiveram uma filha, cujo nome foi Prazer.
Nada mais se opôs aos amores de Cupido e Psiquê, nem mesmo Afrodite, que ao ver seu filho tão feliz se moveu de compaixão e abençoou o casal.
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